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Revista de Comunicação e Linguagens #48 Cidades e o Futuro

ARevista de Comunicação e Linguagens #48 Cidades e o Futuro, com edição e introdução da Prof.ª Catarina Patrício Leitãoacaba de ser publicada em open access.

Conta ainda com a contribuição do Prof. João Borges da Cunha, na Comissão Editorial, e também com o artigo, de que é autor, intitulado: Cityspaces as interior settings: on an inside out effect in the cities under New Capitalism

Resumo

Siegfried Kracauer, crítico cultural alemão, arquiteto, escritor e jornalista, politicamente activo nos anos da República de Weimar, conclui o seu artigo de 1930 “Abschied von der Lindenpassage” [“Adeus à Linden Arcade”], sobre o declínio, e encerramento, daquele recinto comercial, com a questão de lato âmbito: “What would be the point of an arcade [Passage] in a society that is itself only a passageway?” (De que serviria uma arcada [passagem], se a sociedade é ela mesma apenas um lugar de passagem) (Kracauer, 1995: 342).

Sugerido já neste diagnóstico finíssimo, estava o facto de o horizonte último do regime capitalista, sobretudo na economia das cidades, ser a completa mercantilização dos lugares urbanos.

O que, desde o início, está, pois, aqui em jogo, é a completa mobilização social e económica dos locais e sítios urbanos como num centro comercial desmedido (à semelhança do que sucede no romance distópico de J.G. Ballard’s Kingdom Come [2006] [Reino de Amanhã]), resultando num efeito espacial em que nenhum limite pode ser identificado entre uma reconhecida estação de vendas e um balcão onde nada se compra.

Isto significa que as primeiras fronteiras a serem quebradas são as culturalmente construídas, separando o permitido do proibido, o público do privado e o efémero daquilo que é perene, o que conduz a esse marketing ubíquo e ao regime militante da aposta no risco.

Em termos de espaço arquitectónico, tal resulta numa indiferenciação cada vez maior entre atividades de interior e práticas de exterior.

Na realidade, num efeito de verso-reverso [inside out effect], onde espaços públicos exteriores são usados para prosseguir experiências interiores: as fachadas dos edifícios são o suporte para outdoors como enormes anúncios de páginas única em revistas; a vida noturna ocupa e dessaruma as ruas como em ringues cobertos; graffiti e tags deixam marcas nas paredes das cidades com se de mementos pessoais e confessionais se tratassem.

Em suma, e paradoxalmente, o dentro invade o de fora.

Na linha de uma abordagem interdisciplinar, cruzando teoria e análise cultural com estéticas da cidade, este artigo focar-se-á precisamente neste fenómeno urbano, no contexto do qual a tradição do interior burguês (Lukacs, 1970) e da moderna esfera pública (Habermas, 1971) foi desagregada pelas transformações culturais do Novo Capitalismo, sintetizado por Richard Sennett como quando “as instituições inspiram apenas uma fraca lealdade, reduzem a participação e mediação nas ordens transmitidas, engendram fracos níveis de confiança informal e elevados níveis de ansiedade perante a inutilidade” (Sennett, 2007: 124): por outras palavras, o cenário de um drama de vida no qual o desaparecimento de uma paisagem urbana exterior é o símbolo da mais acabada incorporação no sistema capitalista, e a ameaça de um futuro em fuga.

Palavras-chave: efeito verso-reverso; interiores; mercantilização do espaço público; Novo Capitalismo

Revista de Comunicação e Linguagens é uma publicação semestral do Centro de Investigação em Comunicação, Informação e Cultura Digital (CIC. Digital pólo FCSH/NOVA) da área das Ciências da Comunicação, criada pelo Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens (CECL) da Universidade Nova de Lisboa em 1988.